quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

...VALE MAIS QUE MIL PALAVRAS

Entrega do Nobel da Paz 2010 a Liu Xiaobo, dissidente chinês.















(mediaserver.rr.pt)

DEBATE PRESIDENCIAL FERNANDO NOBRE-FRANCISCO LOPES

Do essencial deste primeiro debate presidencial fica a pergunta: como se justificam estas duas candidaturas?
Um candidato (Fernando Nobre) refere como sua mais-valia o já lhe terem morrido pessoas nos braços, ter visto pessoas esmagadas sob destroços ou ter visto crianças com fome a correrem atrás de galinhas que levavam alguma coisa no bico. O trágico das vidas pessoais desfeitas pelas catástrofes, calamidades, guerras e pobreza, não serve para edificar uma candidatura.
O outro candidato (Francisco Lopes) refere o seu passado de luta contra o fascismo. O sofrimento e as provações pessoais que esse combate gerou, não servem para justificar uma candidatura, ancorada num passado que já não volta.

TÍTULOS: POSITIVOS E NEGATIVOS

Vetada remuneração compensatória nos Açores, em http://www.publico.pt/Política/vetada-remuneracao-compensatoria-nos-acores_1471095

Nova tendência socialista propõe fim do "regabofe dos ´boys'" em http://www.publico.pt/Política/nova-tendencia-socialista-propoe-fim-do-regabofe-dos-boys_1471096

Segundo Relatório da OCDE, Portugal foi o país da UE onde a carga fiscal mais subiu em http://economia.publico.pt/Noticia/portugal-foi-o-pais-da-ue-onde-a-carga-fiscal-mais-subiu_1471105

Ministério da Educação não sabe quais as escolas que fizeram os testes PISA em http://www.publico.pt/Educação/ministerio-nao-sabe-que-escolas-participaram-nos-testes-pisa_1471065

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O PORQUÊ DO MAR

De acordo com a edição de hoje do Diário de Notícias, "a Biblioteca Nacional adquiriu um exemplar do mais antigo mapa de Portugal, datado de 1561. O exemplar foi impresso em Veneza a partir do manuscrito original de Fernandes Álvares Seco cujo paradeiro é desconhecido. O mapa original foi uma oferta do humanista português Aquiles Estaço ao cardeal Guido Sforza, em agradecimento pelo "seu empenho nos assuntos lusitanos". A partir dele, Sebastiano di Re gravou e Michele Tramezzino, conhecido editor veneziano, preparou uma versão reduzida (36x66 cm), na escala de cerca 1: 1.340.000, impressa em Veneza mas difundida em Roma, com privilégio do Papa e do Senado de Veneza, datada de 20 de maio de 1561, informa a BN. Esta é a primeira imagem cartográfica que representa Portugal isoladamente e no seu conjunto."

Para além de assinalar o interesse da aquisição, é muito curiosa a forma como este mapa está orientado, com a faixa tradicionalmente apresentada como "o oeste" do território nacional agora transformada "no norte".
E este simples rodar do mapa de Portugal demonstra bem porque razão o futuro do país estava no mar.
Afinal, o mar era toda uma extensão que se prolongava, sem fim, à frente das praias, arribas e promontórios portugueses, por desbravar, sem dono, acessível com as técnicas, o engenho e o arrojo adequados.
Com este mapa torna-se evidente a pulsão marítima de Portugal. Ela torna-se quase que obrigatória!
Mas tendo essa empreitada nacional começado no século XV, ou seja um século antes da feitura deste mapa, e se bem que outros mapas tenham existido antes sem conseguirem chegar aos nossos dias, que capacidade visionária do decisor político de Quinhentos!

quarta-feira, 28 de julho de 2010

QUANTO VALE O INTERESSE ESTRATÉGICO NACIONAL?

Concretizou-se, hoje, a aquisição, pela Telefónica, da participação da PT na Vivo.

Depois de a mesma aquisição ter falhado, em 30 de Junho, devido ao uso, pelo Governo, da "golden share" que dispõe na PT. Invocando a defesa dos interesses estratégicos do país.

Quais seriam esses interesses? Presume-se que a importância de manter participação na Vivo, considerando a sua primazia no mercado brasileiro e latino-americano.

Isto porque o conceito de "interesse estratégico" implicará "aplicar com eficácia os recursos de que se dispõe ou de explorar as condições favoráveis de que porventura se desfrute, visando as alcance de determinados objectivos" (Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, Lisboa 2005).

Cabe perguntar, então, o que mudou em menos de um mês, para que o Governo não tenha utilizado, de novo, aquela prerrogativa especial de accionista?

Que se saiba, a importância da Vivo não foi reduzida.

Que se saiba, a permanência da PT no mercado brasileiro continua a ser objectivo da empresa.

Que se saiba (e já se falava nessa hipótese em Junho), a alternativa da aquisição, pela PT, de participação na OI é um "mal-menor", face à perda da Vivo.

Que se saiba, apenas o valor a pagar pela Telefónica à PT foi aumentado em 350 milhões de euros.


Será que se pode concluir, de todo este processo, que os interesses estratégicos nacionais valem 350 milhões de euros?

segunda-feira, 31 de maio de 2010

VANGLÓRIA OU GLÓRIA VÃ?






«Eu fui o primeiro-ministro que mais veio à Venezuela»

terça-feira, 18 de maio de 2010

FINALMENTE, DE REGRESSO

A TVI anunciou hoje ter contratado novamente Marcelo Rebelo de Sousa, depois de cinco anos de ausência, para voltar a fazer comentário político da actualidade nas noites de domingo.

No momento conturbado e de crise que atravessamos, e cuja solução se afigura difícil e longínqua, sem mesmo se saber bem como vai acabar e com que consequências, é bom saber deste regresso e voltar a ouvir o comentário do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa.

REALIDADES COMPARÁVEIS?

A propósito da promulgação da lei que permite o casamento entre pessoas do mesmo sexo, promulgação essa que o Presidente da República fundamentou numa "ética da responsabilidade", o Ministro dos Assuntos Parlamentares proferiu esta afirmação comparativa: "Em tempos históricos, o nosso país já foi pioneiro em matérias tão decisivas de Direitos Humanos como a abolição da pena de morte."

No que respeita a Direitos Humanos, serão verdadeiramente comparáveis
a abolição da pena de morte e o casamento entre pessoas do mesmo sexo?

Em especial quando era possível atingir os mesmos objectivos de não discriminação com outra figura jurídica que não o casamento?






quinta-feira, 13 de maio de 2010

E DEPOIS DO APOIO?

Que o interesse nacional se deve sobrepor ao do PSD já ensinava Sá Carneiro, numa das suas frases mais importantes e actuais, que aqui já reproduzimos, e com a qual nos identificamos plenamente.

É por todos reconhecida a gravíssima situação em que o País se encontra, e que reclama articulação de esforços, sentido de Estado, capacidade de sacrifício e equidade e justiça na sua distribuição, ética nos comportamentos públicos, vistos e intuídos.

Mas será que é mesmo necessário que o PSD apareça como que a co-governar com o PS, assumindo as medidas mais duras, muitas delas em contraciclo com as suas mais recentes práticas e declarações?

Colocando-se perante o Governo PS numa posição que, em termos públicos, poderá parecer indistinta quanto às suas linhas de governação futura?

É verdade que há diferenças substanciais, desde logo na vontade de reduzir a despesa pública que não apenas e só pela redução dos salários dos funcionários públicos (medida recorrente, fácil e que “paga” junto da opinião pública que vê os servidores do Estado como uma classe privilegiada e ociosa…com responsabilidades, é certo, de uma minoria de alguns dos seus membros, que efectivamente não servem o público, antes "se servem do público").

Mas quando este Governo falhar, e quando o PS se esgotar, não é certo que o PSD não venha a ser penalizado por esta proximidade excessiva aos rumos da governação.

E isso poderá redundar em benefício dos partidos mais pequenos, que poderão ver reforçada a sua votação, com consequências na estabilidade governativa e na constituição de uma maioria parlamentar.
Ganhará o país com isso? Creio que não.

Defender a Nação e apoiar os esforços para equilibrar as suas finanças públicas e para garantir a sua credibilidade externa – Sim.

Auto-responsabilizar-se pelas políticas concretas para aí chegar - Não.

PAPA BENTO XVI EM PORTUGAL - FRASES

Hoje, a maior perseguição à Igreja não vem de fora, mas dos pecados que existem dentro da própria Igreja.

O perdão não substitui a justiça. A penitência, a razão, a aceitação, o acolhimento, o perdão que ocorre dar, não satisfazem a necessidade de justiça, porque o perdão não substitui a justiça.

Este é o momento de ver que a ética não é uma coisa exterior, mas interior à racionalidade, ao pragmatismo económico.

(Papa Bento XVI, na viagem de avião para Portugal, 11 de Maio de 2010)

Não é possível explicar Portugal sem convocar as nossas relações com a Santa Sé. Relações que ditaram o reconhecimento da nossa própria existência como realidade política independente, em 1179, e que marcaram a afirmação universal da Nação a que os antecessores de Vossa Santidade chamaram “Fidelíssima”.

Um país onde a separação entre a Igreja e o Estado convive com as marcas profundas da herança cristã presente na cultura, no património e, acima de tudo, nos valores humanistas que determinam o nosso modo de ser e de estar no mundo.

Noutros tempos, dando um contributo precioso para a expansão da fé cristã, abrimos o mundo ao diálogo universal. Somos, por isso, um povo vocacionado para o reconhecimento do valor da diversidade. Uma atitude particularmente adequada a um tempo em que, porventura mais do que nunca, se reclama um entendimento entre o discurso da razão e o discurso da Fé.
(Presidente da República Cavaco Silva, no discurso de boas vindas ao Papa, 11 de Maio de 2010)

De uma visão sábia sobre a vida e sobre o mundo deriva o ordenamento justo da sociedade.

Não se trata de um confronto ético entre um sistema laico e um sistema religioso, mas de uma questão de sentido à qual se entrega a própria liberdade.

A viragem republicana, operada há cem anos em Portugal, abriu, na distinção entre Igreja e Estado, um espaço novo de liberdade para a Igreja.
(Papa Bento XVI, no discurso oficial à chegada a Lisboa, 11 de Maio de 2010)

Ponto de partida, este Rio é também uma porta de entrada e ensinou-nos a acolher quem chega. E chegam muitos, turistas que nos visitam, emigrantes à procura de um país de acolhimento. Recebemo-los como irmãos, com aquele amor que sempre identificou os cristãos. Muitos dos que chegam não são cristãos, praticam outras religiões. Também os acolhemos com amor, aprendemos a respeitar a sua fé, a conviver no diálogo e a descobrir valores que temos em comum. A maioria católica não tira o lugar a ninguém.
(Cardeal Patriarca de Lisboa, D. José Policarpo, saudação ao Papa na missa em Lisboa, 11 de Maio de 2010)

Em tempos passados, a vossa saída em demanda de outros povos não impediu nem destruiu os vínculos com o que éreis e acreditáveis, mas, com sabedoria cristã, pudestes transplantar experiências e particularidades abrindo-vos ao contributo dos outros para serdes vós próprios, em aparente debilidade que é força.

Sabemos que não lhe faltam filhos insubmissos e até rebeldes, mas é nos Santos que a Igreja reconhece os seus traços característicos e, precisamente neles, saboreia a sua alegria mais profunda.
(Homilia do Papa Bento XVI em Lisboa, 11 de Maio de 2010)

Tanto mais quanto verificamos as dificuldades levantadas à reflexão e à ponderação – à cultura, propriamente dita – pela velocidade, para não dizer a vertigem, com que hoje nos podemos distrair, de tópico em tópico, sem definir nem aprofundar propriamente nada.
(D. Manuel Clemente, Bispo do Porto e Presidente da Comissão Episcopal da Cultura, Bens Culturais e Comunicações Sociais, Encontro/Cultura, 12 de Maio de 2010)

Principiarei por dizer-vos ter pensado que as éticas, se não também mesmo as artes, seriam derivadas das religiões que procuram dar uma explicação da existência do ser humano face à sua inserção concreta no cosmos.

Considerando, porém, a religião e a arte, ambas se me afiguram, ainda que de um modo distinto é certo, intimamente voltadas para o homem e o universo, para a condição humana e a natureza Divina.

/…/o NON tira a ESPERANÇA que é a última coisa que a natureza deixou ao homem.

/…/como pertencente à família cristã, de cujos valores comungo, e que são as raízes da nação portuguesa e a de toda a Europa, quer queiramos ou não/…/
(Realizador Manuel de Oliveira, Encontro/Cultura, 12 de Maio de 2010)

De facto, um povo, que deixa de saber qual é a sua verdade, fica perdido nos labirintos do tempo e da história, sem valores claramente definidos, sem objectivos grandiosos claramente enunciados.

A convivência da Igreja, na sua adesão firme ao carácter perene da verdade, com o respeito por outras «verdades» ou com a verdade dos outros é uma aprendizagem que a própria Igreja está a fazer. Nesse respeito dialogante, podem abrir-se novas portas para a comunicação da verdade.

Constatada a diversidade cultural, é preciso fazer com que as pessoas não só aceitem a existência da cultura do outro, mas aspirem também a receber um enriquecimento da mesma e a dar-lhe aquilo que se possui de bem, de verdade e de beleza.

Vós, obreiros da cultura em todas as suas formas, fazedores do pensamento e da opinião, «tendes, graças ao vosso talento, a possibilidade de falar ao coração da humanidade, de tocar a sensibilidade individual e colectiva, de suscitar sonhos e esperanças, de ampliar os horizontes do conhecimento e do empenho humano. […] E não tenhais medo de vos confrontar com a fonte primeira e última da beleza, de dialogar com os crentes, com quem, como vós, se sente peregrino no mundo e na história rumo à Beleza infinita»

Foi para «pôr o mundo moderno em contacto com as energias vivificadoras e perenes do Evangelho» que se fez o Concílio Vaticano II, no qual a Igreja, a partir de uma renovada consciência da tradição católica, assume e discerne, transfigura e transcende as críticas que estão na base das forças que caracterizaram a modernidade, ou seja, a Reforma e o Iluminismo.

Fazei coisas belas, mas sobretudo tornai as vossas vidas lugares de beleza.
(Papa Bento XVI, Encontro/Cultura, 12 de Maio de 2010)

/.../o homem pôde despoletar um ciclo de morte e terror, mas não consegue interrompê-lo”

Com a família humana pronta a sacrificar os seus laços mais sagrados no altar de mesquinhos egoísmos de nação, raça, ideologia, grupo, indivíduo/…/
(Papa Bento XVI, Fátima, 13 de Maio de 2010)

segunda-feira, 10 de maio de 2010

LAICISMO INTOLERANTE?

De acordo com a imprensa, a direcção da bancada parlamentar do PS comunicou que os funcionários parlamentares do partido não terão tolerância de ponto nos dias 11 e 13, concedida por causa da visita do Papa Bento XVI, ao contrário dos restantes funcionários da Assembleia da República e até dos funcionários do PS na sede do Largo do Rato.

Ainda de acordo com a mesma imprensa, a tolerância de ponto tem sido contestada pelo deputado do PS Miguel Vale de Almeida, eleito como independente, e que se tem destacado na defesa das posições mais socialmente fracturantes daquela bancada, em especial o casamento entre pessoas do mesmo sexo. O que pressupõe tolerância dos outros para com as opções de alguns.

Pelos vistos há franjas do PS que confundem o laicismo do Estado, constitucionalmente consagrado, com o laicismo da nossa sociedade, que parece quererem impor.

A nossa sociedade, quer queiram quer não, ainda é e será maioritariamente católica.

E aquelas franjas parecem esquecer, também, que estamos perante uma visita oficial de um Chefe de Estado, que é também o chefe da Igreja Católica.

Esta atitude da bancada parlamentar do PS é ofensivamente gratuita, parecendo mesmo querer fazer guerra política com esta visita oficial.

Veja-se como esta atitude é bem oposta àquela com que a mesma bancada reage a visitas oficiais de outros Chefes de Estado, cujos pergaminhos na defesa dos Direitos Humanos, da Democracia e da Ética estão por apurar.

Esta atitude é a mais pura imagem de laicismo intolerante!

Que deve ser combatida politicamente por quem acredita no valor da tolerância!

sábado, 24 de abril de 2010

A PROPÓSITO DE PRESSÕES...

Atendendo aos diversos processos que nascem sem pais assumidos, que vivem nos jornais e que morrerão sem defuntos, vale transcrever um passo do livro "Shalimar o Palhaço", de Salman Rushdie, sobre o poder e as pressões:

"A natureza do poder absoluto é tal que o homem poderoso não precisa de mencionar o seu poder. Está presente na consciência de todos. Assim, o poder age de uma maneira furtiva e, consequentemente, os poderosos poderão negar que alguma vez o terão usado."

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

SERÁ VERDADE (II)?







O artigo que abaixo se transcreve deveria ter sido publicado no Jornal de Notícias, mas este órgão de comunicação social não o fez, razão pela qual Mário Crespo deixou de nele colaborar semanalmente.
A confirmar-se o teor deste artigo, o próximo era Mário Crespo.
Triste.
Lamentável.
Preocupante.
Recorrente.
Censório.
Contra as liberdades.
Que dirão aqueles que iniciaram as comemorações dos 100 anos da República celebrando a ética republicana - como se a ética fosse adjectivável ou só e apenas sua?


O Fim da Linha
Mário Crespo
Terça-feira dia 26 de Janeiro. Dia de Orçamento. O Primeiro-ministro José Sócrates, o Ministro de Estado Pedro Silva Pereira, o Ministro de Assuntos Parlamentares, Jorge Lacão e um executivo de televisão encontraram-se à hora do almoço no restaurante de um hotel em Lisboa. Fui o epicentro da parte mais colérica de uma conversa claramente ouvida nas mesas em redor. Sem fazerem recato, fui publicamente referenciado como sendo mentalmente débil (“um louco”) a necessitar de (“ir para o manicómio”). Fui descrito como “um profissional impreparado”. Que injustiça. Eu, que dei aulas na Independente. A defunta alma mater de tanto saber em Portugal. Definiram-me como “um problema” que teria que ter “solução”. Houve, no restaurante, quem ficasse incomodado com a conversa e me tivesse feito chegar um registo. É fidedigno. Confirmei-o. Uma das minhas fontes para o aval da legitimidade do episódio comentou (por escrito): “(…) o PM tem qualidades e defeitos, entre os quais se inclui uma certa dificuldade para conviver com o jornalismo livre (…)”. É banal um jornalista cair no desagrado do poder. Há um grau de adversariedade que é essencial para fazer funcionar o sistema de colheita, retrato e análise da informação que circula num Estado. Sem essa dialéctica só há monólogos. Sem esse confronto só há Yes-Men cabeceando em redor de líderes do momento dizendo yes-coisas, seja qual for o absurdo que sejam chamados a validar. Sem contraditório os líderes ficam sem saber quem são, no meio das realidades construídas pelos bajuladores pagos. Isto é mau para qualquer sociedade. Em sociedades saudáveis os contraditórios são tidos em conta. Executivos saudáveis procuram-nos e distanciam-se dos executores acríticos venerandos e obrigados. Nas comunidades insalubres e nas lideranças decadentes os contraditórios são considerados ofensas, ultrajes e produtos de demência. Os críticos passam a ser “um problema” que exige “solução”. Portugal, com José Sócrates, Pedro Silva Pereira, Jorge Lacão e com o executivo de TV que os ouviu sem contraditar, tornou-se numa sociedade insalubre. Em 2010 o Primeiro-ministro já não tem tantos “problemas” nos media como tinha em 2009. O “problema” Manuela Moura Guedes desapareceu. O problema José Eduardo Moniz foi “solucionado”. O Jornal de Sexta da TVI passou a ser um jornal à sexta-feira e deixou de ser “um problema”. Foi-se o “problema” que era o Director do Público. Agora, que o “problema” Marcelo Rebelo de Sousa começou a ser resolvido na RTP, o Primeiro Ministro de Portugal, o Ministro de Estado e o Ministro dos Assuntos Parlamentares que tem a tutela da comunicação social abordam com um experiente executivo de TV, em dia de Orçamento, mais “um problema que tem que ser solucionado”. Eu. Que pervertido sentido de Estado. Que perigosa palhaçada.

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

SERÁ VERDADE?


Pode ler-se hoje a notícia "Marcelo sai da RTP".
Do que se pode ler, com a saída, por iniciativa própria, do Dr. António Vitorino, destacado militante do PS, do comentário político na estação pública de televisão, e para assegurar o pluralismo e evitar condenações da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC), a RTP irá terminar com o programa "As escolhas de Marcelo".
Decisão radical, se pensarmos que bastaria substituir o Dr. António Vitorino por outro destacado militante do PS, e haverá muitos que estariam disponíveis para esse efeito, permitindo assim continuar a ouvir o comentário político do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, destacado militante do PSD, Partido que já liderou.
Infelizmente não foi esta a decisão da televisão pública.
A pretexto de um querer sair, porque a presença na RTP "incomodava" o seu dia-a-dia, o que é legítimo, aproveita para fazer sair o outro, que era "incómodo".
É caso para dizer que o PS é um Partido com muita sorte - os órgãos de comunicação social tomam, constantemente, decisões que evitam a exposição pública, sobretudo na TV, de comentários ou críticas ao "estado das coisas" em Portugal. Que afastam vozes que incomodam o "status quo".
Quem será o próximo?

Uma nota final para a ERC e para o seu Conselho Regulador - entre outros membros, integra este Conselho a Drª Estrela Serrano, ex-assessora de imprensa do Presidente Mário Soares, que explicou, num trabalho muito elucidativo, como a Presidência da República utilizou então a comunicação social para atacar o Primeiro-Ministro Cavaco Silva e os seus Governos.

quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

SIM AO REFERENDO AO CASAMENTO HOMOSSEXUAL

Parece evidente que uma alteração deste género, que não é apenas e só política ou legislativa, mas sim e sobretudo social, deve ser objecto de referendo.
E isto não atenta nada contra a igualdade e a diferença, que deve ser respeitada.
Aliás, o princípio da igualdade significa tratar por igual o que é igual e tratar por diferente o que é diferente.
O que justificaria a criação, sim, de uma nova figura jurídica/instituto/vínculo (o que lhe queiram chamar) que consagrasse toda a disciplina do casamento, mas sem essa designação, a utilizar pelos homossexuais que entendessem formalizar/regular/proteger dessa forma a sua relação.
Se fosse este o caso, admitiria a desnecessidade de o referendar.
Tratando-se de alargar o instituto casamento a pessoas do mesmo sexo, e independentemente da consagração ou não dessa possibilidade em alguns dos programas eleitorais apresentados nas legislativas de Outubro passado, a legitimidade do Governo e da Assembleia da República para o fazerem, sem consultar especificamente os seus concidadãos, é curta.
E não se percebe o receio dos Partidos da Esquerda em aceitarem levar a referendo esta alteração social.
Porque das duas uma: ou o referendo é favorável a esta alteração, e então a sua legitimidade é inquestionável, ou o referendo é desfavorável, e então estaremos perante uma fractura social imposta por uma minoria, sem eco maioritário nos Portugueses, de todo inaceitável.
Não existindo nenhuma outra agenda fracturante escondida ("com rabo de fora"?), do referendo nada pode sair que afecte ou atente contra a protecção de direitos dos homossexuais, nem que os discrimine perante direitos dos heterossexuais casados (recorde-se que se afirma ser esta a intenção desta alteração) - na hipótese mais favorável a aplicação do instituto casamento sai reforçada; na menos favorável o legislador terá de criar uma nova figura jurídica/instituto/vínculo que responda a desejos, legítimos, dos homossexuais, naquilo que respeita a direitos e deveres de uma relação que queiram ver devidamente formalizada, institucionalizada e protegida, sem discriminação.
Só não lhe chamem casamento, porque efectivamente não o é.
Se querem mesmo chamar-lhe casamento, referendem-no.